Apetite

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Já não suporto o fardo da rotina,
a falsa paz do mundo às avessas,
assistir sempre a mesma comédia
e só amar as belezas efêmeras.

Já não suporto o sabor das palavras,
os olhos cansados da mesma vista,
fixar num mesmo chão minhas pegadas
e não ouvir a voz daquilo que atrofia.

Desejo a incoerência do existir
sem tempo, a paz de poder estar vazio
e a liberdade de não ter pra onde ir.

Desejo, afinal, um doce alívio
e se algo ainda possa me afligir,
que a vida viva seja meu cilício.