Difícil se contar. A tentativa
não vale nem um conto, é certo, e por isso mesmo me conto e me reconto, buscar
por nadas me distrai. Chego, então, a um resultado não exato de mim. Mais e
menos que um. Inteira fracionada. Se me multiplico, o resultado sou eu? Foi
essa a operação que me fez ver a vida com olhos que não eram, mas eram, meus?
Contar-me, então, é contar-nos.
Mas não há dedos. Nem mãos. E penso que não são pés esses que ora vejo. São
asas que me levaram de um lugar a outro a outro a outro e a outros que ainda me
levarei.
Um corpo em repouso tende a
permanecer em repouso, e um corpo em movimento tende a permanecer em movimento,
assim como corpos e palavras em conflito tendem a permanecer em conflito. Mas
isso são tendências. Não se deve confiar nelas, ainda que se possa amá-las.
Amemos os conflitos! Como aquele
do moço e seu pai na Lavoura Arcaica; e aquele do escritor e Ela, num Futuro
para o qual não Voltarei; e também do Sr. Ninguém que certamente é mais que eu;
e todos os outros que existem ou não ou que devem existir e talvez nunca irão.
Toda história contada é
ficcional. Ainda que seja verdadeira. Sapo não pula por boniteza, mas, porém,
por precisão.
Difícil se contar. A tentativa não vale nem um
conto, é certo, e por isso mesmo me conto e me reconto, buscar por nadas me
distrai. Chego, então, a um resultado exato de mim. Dividida em muitos,
multiplicada em poucos, igual a nada, e fim.