Soneto Incerto

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Procura-se o certo, até a vã certeza 
de que é melhor o fim, mesmo que seja 
antes do facultativo começo. 
Abstrata forma, deixa tudo cheio, 
 
pé, pau, pele, placenta, pulmão, perna... 
qualquer vão vazio ou brecha, onde possa 
se infiltrar e encontrar um reservado 
lugar, o qual estaria completo 
 
com essas coisas que não satisfazem: 
angústia, ira, amor, desassossego... 
Mas mesmo que haja aqueles que dizem 
 
que de certeza estar-se preenchido 
é o que aspira o homem, vem a vertigem 
de exaurir-se e ser só ilusão e vazio.

2 opiniões:

cami disse...

boquiaberta.
me lembrei de uma expressão francesa (os franceses são bons com expressões), "l'appel du vide".

MATTOS , C. P. disse...

Nalinda, tinha esquecido de ler, mas você me lembrou pelos "Escritores de Garagem"; pô, cara, você sempre arrasa, gostei! Mas ainda preciso ler com calma.

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