Veredito

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Na sala, a espera era longa. Uma mesa no centro guardava algumas revistas.... anúncios, atrizes, novelas.... nada que maquilasse o tempo. Um vaso de flores artificiais também repousava ali. As paredes aparentavam idade avançada e uma TV, sem som, reproduzia algumas imagens.
O ambiente estava sufocado de pessoas. Tinham uma aparência cansada e pensativa, as faces desfloridas e os ombros curvados.
Um homem batia os pés no chão acompanhando o compasso de uma música inexistente, uma criança chorava, alguém fazia cliks com uma caneta, um ou outro bocejava, o ventilador dava uns estalidos e a porta do banheiro batia por conta do vento. Tudo isso formava uma orquestra infernal e foi com alívio que ele ouviu a secretária chamar seu nome.
Entrou na sala onde a revelação vestida de branco o esperava. Os quadros de paisagens que adornavam as paredes e o jardim de inverno que havia ao fundo transmitiam uma fria paz.
O médico falava-lhe sobre uma doença incurável frente a qual a medicina podia apenas manipular o tempo, acrescentando-lhe mais alguns meses ao calendário. O doutor apresentava uma expressão triste e séria que tinha a convicção que a regularidade do uso lhe dera.
Após ouvir toda a explicação sobre o que fizera de seu corpo um alojamento e que retribuía a hospitalidade com a morte, se encaminhou para a porta e antes de sair ouviu o médico aconselhá-lo a aproveitar o tempo que ainda lhe restava visitando a família, por exemplo.
Saiu à rua, viu uma lanchonete que ficava em frente ao consultório e caminhou para lá. Havia poucas pessoas ali, o sol ardia e o calor fazia suar, mas mesmo assim pediu um café. Enquanto olhava os carros que passavam e o mormaço que saia do asfalto, sorveu o primeiro gole pensando como aproveitaria seu tempo se não tinha uma família para visitar.