A persistência da memória, 1931, Salvador Dalí |
Eu queria que você tivesse esperado.
Só um
pouquinho.
Nem
precisava ser muito não.
Menos que
nove meses, mais que oito.
A gente ia
acabar se colidindo era inevitável.
Eu queria
que você tivesse notado minha roupa quando ela era nova.
E dissesse
poxa adorei e eu dissesse nossa obrigada e então a gente se beijaria. Porque é
por isso que a gente elogia a roupa de alguém não é.
Eu queria
ter falado aquele dia que você disse quê e eu disse nada.
E ter dito
que era tudo sim e então a gente transaria. Porque é por isso que a gente fala assim
baixinho quase sem falar não é.
Eu queria
ter olhado bem nos seus olhos no dia da chuva.
E olha você
tá linda debaixo de tanta água e a gente daria as mãos. Porque é por isso que a
gente olha bem nos olhos de alguém não é.
E então e de novo e mais uma vez... inevitável.
Eu queria
que você tivesse esperado só um pouquinho.
Você não ia
nem notar o tempo tictaquear. E quando o tempo despertasse, você ia ver que
teria valido tanto ponteiro girar.
Mas agora é
tarde não é. O tempo da espera já passou. O tempo de depois da espera também. E
você no meio de tanta engrenagem... foi passando.
E eu parada
aqui. Olhando o tempo que gira tictaqueando. Pensando que eu queria que você
tivesse esperado só um pouquinho nem precisava ser muito não.